103 Filmes

Minha lista com os 103 filmes mais importantes, alguns deles acompanhados de uma pequena resenha de minha autoria. Nem sempre minha opinião confere com a opinião dos críticos de cinema, mas expressa minha experiência cinematográfica e a importância que estes filmes tiveram na minha vida. Esses 103 filmes, na minha opinião, resumem mais de 100 anos do que de melhor se fez para o cinema. Divirtam-se!

12 Angry Men/12 Homens e uma Sentença (1957) - Sidney Lumet (crítica de Roger Ebert)

12 HOMENS E UMA SENTENÇA Contra todos os outros 11 jurados, um homem tenta impedir que se faça uma injustiça. Neste filme, embora não seja definida a etnia do acusado, aparece o preconceito racial influindo na decisão dos jurados. Obra prima.

2001: A Space Odyssey/2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968) - Stanley Kubrick (crítica de Roger Ebert)

2001 - UMA ODISSEIA NO ESPAÇO O filme de Kubrick, uma adaptação de um conto de Arthur C. Clarke, surpreende em diversos aspectos, sendo algo muito diferente de quase tudo que foi feito para o cinema. O filme desenvolve-se em três partes: a primeira ocorre na pré-história, focando um grupo de australopitecos que descobrem como fazer ferramentas para matar; depois mostra a viagem da nave Discovery em direção à Jupiter; e finalmente, aparecem o Monolito de Júpiter, o "portal espacial" e o "outro lado". A nave Discovery leva cientistas em estado de animação suspensa, que farão pesquisas em Júpiter. No controle da nave estão dois pilotos, Dr. Dave Bowman e Dr. Frank Poole, e um computador provido de inteligência artificial, chamado de HAL 9000. Embora tenhamos que admitir que o filme é fiel à ciência envolvida nos fatos que narra - e podemos citar as naves espaciais e sua adequação às diversas missões a que se destinam - este não é o foco do filme. Sobre isso é interessante também observar que as imagens da Lua, mostradas no filme, são incrivelmente fiéis às imagens que seriam feitas pela missão Apollo, ao pousar na Lua, cerca de um ano depois. O filme trata sobre a intervenção de uma civilização alienígena na história e evolução da humanidade. Estes alienígenas nunca são vistos no filme. Deles tudo que podemos perceber são o Monolito e o espaço que é criado para Bowman após o "portal espacial", no "outro lado". Na verdade, o filme apresenta, não um, mas três monolitos: o que guia a evolução dos australopitecos do início do filme; o Monolito na Lua; e o Monolito próximo a Jupiter, destino da missão da nave Discovery. O filme sugere que este terceiro Monolito será o responsável pelo próximo passo evolucionário da humanidade. O que marca o andamento do filme é o ritmo lento que Kubrick atribuiu às cenas do filme, acompanhado pela incrível trilha musical clássica - destaque para a obra "Assim Falou Zaratustra" de Richard Strauss. Especula-se que a cena do alinhamento da Terra, da Lua e do Sol e a música de Richard Strauss não tenham sido escolhas aleatórias de Kubrick, mas uma deliberada referência ao Zoroastrismo, antiga religião ariana, e à antiga Astrologia. Em diversos momentos do filme os astros, particularmente o Sol, e seus alinhamentos recebem destaque na cena, podendo sugerir um símbolo de renascimento, ideia recorrente na obra. Kubrick oferece-nos, com o ritmo do filme, a possibilidade de melhor "degustar" as cenas no espaço e a música que perfeitamente as acompanha, meditando sobre o seu significado - a situação atual da humanidade e o seu destino futuro. O diretor, ao criar a obra cinematográfica, ao inverso do conto de Arthur C. Clarke, optou por oferecer poucas explicações sobre os enigmas que a película apresenta. Segundo o diretor do filme, Stanley Kubrick: "Eu tentei criar uma experiência visual, que se desviasse do campo das palavras e penetrasse diretamente no subconsciente com um teor emocional e filosófico... Projetei o filme para ser uma experiência subjetiva intensa, que atinja o espectador num nível profundo de consciência, exatamente como a música faz... Você está livre para especular como quiser sobre o sentido filosófico e alegórico do filme." Parece uma ironia do filme que os diálogos dos personagens humanos sejam de pouca ou nenhuma relevância à evolução da história. As frases mais emblemáticas e importantes são as de uma máquina, o computador HAL 9000 - cujo grande medo é ser desligado e "morrer": "Eu estou com medo. Eu estou com medo, Dave. Dave, minha mente está indo embora. Eu posso sentir isso. Eu posso sentir isso. Minha mente está indo embora" (HAL, enquanto Dave Bowman o desligava). As influências do filme sobre o cinema de ficção científica foram enormes e perduram até hoje. O filme representou um salto de qualidade para os efeitos especiais e influenciou a saga Star Wars, cuja existência pode ser atribuída ao fato de "2001" ter, 9 anos antes, revivido o interesse do público e da indústria cinematográfica pelos filmes de ficção científica.

8½/8½ (1963) - Federico Fellini (crítica de Roger Ebert)

 Mais um dos filmes de Fellini com o que ele mais gosta: contar coisas simples com imagens provocativas e belas. O filme conta a história de um diretor de cinema, em crise existencial, que busca a paz em uma estação de águas, enquanto é perturbado por sua mulher, sua amante e seu produtor, e perseguido por recordações que lhe aparecem na forma de visões. Imagens delirantes ilustram os conflitos internos do personagem principal, assim como suas lembranças do passado. Uma obra prima auto-biográfica de Fellini.

A Clockwork Orange/Laranja Mecânica (1971) - Stanley Kubrick (crítica de Roger Ebert)
After Hours/Depois de Horas (1985) - Martin Scorsese

DEPOIS DE HORAS Um rapaz comum resolve visitar uma moça que ele conheceu em uma cafeteria. Só que a noite torna-se quase um pesadelo para que ele consiga voltar para casa. Os críticos não consideram esta obra de Martin Scorsese seu melhor trabalho, mas, para mim, esta comédia tem um significado muito especial. Como todo filme de Scorsese uma obra de excessão.

Akira/Akira (1988) - Katsuhiro Ôtomo
Alien/Alien, O 8º Passageiro (1979) - Ridley Scott (crítica de Roger Ebert)

ALIEN, O 8º PASSAGEIRO Ridley Scott oferece-nos um suspense espacial visceral e apavorante. Lembro a primeira vez em que assisti o filme e quase caí da poltrona do cinema, num dos momentos mais impactantes da obra. O filme apresenta a história da tripulação da nave cargueiro Nostromo que, retornando para a Terra, acaba respondendo a um chamado de socorro de um planeta desconhecido. O diretor Ridley Scott faz magistral uso da técnica de compor um clima oposto, nas cenas iniciais, ao que se seguirá, quando for descoberto o alienígena, como que contrapondo a normalidade com o absoluto caos, potencializando o suspense. Pode-se perceber isso em diálogos casuais da tripulação durante o café, ou na discussão dos tripulantes sobre o valor a ser pago pelo trabalho. No planeta, a tripulação encontra, no interior de uma nave alienígena, duas formas de vida alienígenas. Uma, o piloto da nave fossilizado, e a outra, na área de carga da nave alienígena, uma perigosa forma de vida predadora, um assassino perfeito, cujo ciclo de vida envolve quatro fases distintas: Ovo; Abraçador; Estoura-peito; e Xenomorfo. O fato da criatura evoluir aumenta o suspense, pois nunca sabemos qual será a próxima fase. As formas que a criatura assume em sua evolução evocam as criaturas mais detestadas por nós: aracnídios e serpentes. O diretor Ridley Scott faz inteligente uso de tomadas dos corredores vazios da nave Nostromo para aumentar o suspense do filme. A cena em que o sangue ácido do alienígena começa a dissolver as paredes e pisos da Nostromo, é usada de forma brilhante pelo diretor para dar pistas ao espectador do grande tamanho da nave. Qualquer canto escuro da Nostromo pode ser o local em que irromperá a criatura sobre os tripulantes para trucida-los como um animal que caça por meio de tocaia. Usando isso, o filme é capaz de provocar grande suspense. A criatura em sua fase adulta, o Xenomorfo, é baseado nos provocativos trabalhos de H.R. Giger, um artista plástico suíço. Ash, o oficial de ciências da Nostromo, interpretado por Ian Holm, define o alienígena como "um organismo perfeito", admirando sua pureza, seu senso de sobrevivência, "sem consciência, remorso ou ilusão de moralidade". Todos estes elementos servem para conduzir a história para o desfecho, o clímax do suspense, em que Ripley, interpretada por Sigourney Weaver, última sobrevivente da Nostromo, enfrenta sozinha o alienígena lutando por sua vida. Não podemos deixar de constatar as semelhanças da obra de Ridley Scott com o filme "O Monstro do Ártico" (1951). Uma outra óbvia influência é a cena inicial de Star Wars episódio IV (1977), com a gigantesca nave aparecendo na tela do cinema e cobrindo toda a visão. A obra-prima de Ridley Scott, um dos filmes mais influentes do cinema, não preocupa-se apenas em produzir sustos, mas oferece materiais para pensar, sem tornar-se chato ou abandonar o gênero suspense.

Amadeus/Amadeus (1984) - Milos Forman
Apocalypse Now/Apocalypse Now (1979) - Francis Ford Coppola (crítica de Roger Ebert)

APOCALYPSE NOW
 Este estupendo trabalho de Francis Ford Coppola, que nos brindou também com O Poderoso Chefão, é uma obra que desnuda e revela todo o absurdo de uma guerra, por meio dos sentimentos e percepções de um grupo de combatentes que se embrenha  na floresta tropical do Vietnam, em busca de um Coronel que rebelou-se contra o exército. Cenas de batalha antológicas e perturbadoras, mostrando a banalização da vida e da morte em uma guerra.

Babettes Gæstebud/A Festa de Babette (1987) - Gabriel Axel 

A FESTA DE BABETTE Refugiada da Comuna de Paris, Babette chega a um pobre vilarejo dinamarquês, habitado pelos fanáticos remanescentes de uma decadente seita protestante puritana, onde emprega-se como cozinheira das duas filhas do falecido pastor, fundador do culto. O filme é um elogio à arte representada pela culinária de Babette, numa história que tem como pano de fundo a época das revoluções. No enredo contrapõem-se a visão cosmopolita de Babette com a visão puritana dos habitantes do vilarejo. Mas não só ela representa a intromissão do externo na vida interna do vilarejo, já que, em flashbacks, são mostradas as interações das duas irmãs com o mundo externo às suas concepções religiosas, entrando em conflito com estas. O ápice das contradições entre o mundo glamuroso do passado de Babette, que havia sido a principal chef da cozinha do mais famoso restaurante de Paris, e o mundo simples do vilarejo puritano, é um jantar, ao qual comparecem todos os poucos remanescentes do culto puritano, cujos olhos só podiam ver pecado nas receitas divinas de Babette, mas que, contraditoriamente, acabam cativados pela culinária de Babette. Ao final, numa espécie de resumo da história, as irmãs declaram o quanto Babette, por sua arte na culinária, "estaria com os anjos no paraíso". Belíssima obra de Gabriel Axel.

Bacurau/Bacurau (2019) - Juliano Dornelles, Kleber Mendonça Filho

BACURAU Um filme estranho e impressionante. Um estilo único que me lembrou Tarantino. Retrata um pouco a confusão política e social em que o Brasil encontra-se, com comédia e sangue. Boas pitadas de anti-capitalismo. Obrigatório assistir.

Blade Runner/O Caçador de Andróides (1982) - Ridley Scott (crítica de Roger Ebert)

O CAÇADOR DE ANDRÓIDES Blade Runner é um dos filmes de ficção científica mais emblemáticos do cinema, com um visual futurista provocativo e genial. O filme de Ridley Scott é baseado no conto "Do Androids Dream of Electric Sheep?" de Philip K. Dick. Dick foi um escritor de ficção científica cujas inspirações provêm do transcendente. Ele é influenciado por misticismo, budismo, cabalismo, gnosticismo e hermetismo. Um tema recorrente nos contos de Dick é a relação entre realidade, memórias e consciência. O filme trata de um futuro em que a Terra está devastada pela poluição e super-população, em que androides auto-conscientes, chamados replicantes, tornam-se foras da lei, e são caçados por policiais especializados neste trabalho. Harrison Ford interpreta o papel principal, o policial Rick Deckard. Os replicantes, principalmente os personagens Roy Batty e Rachael, acabam produzindo uma reflexão sobre o que é "ser humano". De um modo geral, replicantes não sabem que são replicantes, pelo uso de memórias implantadas de um passado fictício, o que provoca uma reflexão profunda sobre o significado da vida. Na época de seu lançamento, o filme foi montado de forma a torná-lo mais comercial, eliminando boa parte destes temas, o que criou um conflito entre o estúdio e o diretor. A versão do diretor, que saiu em 1992, é mais compatível com o conto original de Dick. Nesta versão foi removida a narração de Deckard, inserida uma cena de um sonho de Deckard, sobre um unicórnio, e removida a cena de "final feliz". O sentido da história, então, passa a ser completamente diferente e muito mais instigante, sugerindo que Deckard possa ser um replicante. Blade Runner é um marco do cinema de ficção científica, tendo se tornado um "cult movie" para toda uma geração.

Bodas de Sangre/Bodas de Sangue (1981) - Carlos Saura
Brazil/Brazil o Filme (1985) - Terry Gilliam

BRAZIL O FILME Se há alguma coisa a dizer sobre "Brazil", seria que o filme é uma louca alegoria sobre a burocratização e o autoritarismo. O filme de Terry Gilliam, recheado de metáforas, é tudo, menos simples e trivial. A narrativa kafkaesca compartilha inspiração nos temas tratados em "1984" de George Orwell. Roger Ebert assistiu o filme duas vezes e não gostou. Não concordo com o grande crítico. "Brazil", com seu visual retrô, tem um charme e uma encantadora complexidade. Desde a primeira vez que assisti, nunca deixei de gostar do filme, com suas alegorias políticas e psicológicas.

Butch Cassidy/Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969) - George Roy Hill
Броненосец Потёмкин/O Encouraçado Potemkin (1925) - Serguei Eisenstein (crítica de Roger Ebert)

O ENCOURAÇADO POTEMKIN Não sou entusiasta do cinema engajado soviético, mas este filme, embora tenha em parte envelhecido ao longo dos anos, ainda é uma obra-prima de citação obrigatória em qualquer lista de grandes filmes do cinema. Eisenstein consegue compor um belíssimo filme ao descrever a rebelião dos marinheiros russos contra a opressão e os abusos de seus superiores e sua aliança com a luta do proletariado contra a opressão czarista. Algumas cenas são de uma fotografia impactante, com Eisenstein usando ângulos surpreendentes que engrandessem a cena. O filme é tão emblemático e impactante que a cena do massacre na escadaria de Odessa é tomada por muitos como um fato histórico, misturando-se realidade e ficção. A cena foi repetida, como homenagem, em filmes como Brazil o Filme (1985) de Terry Gilliam, Os Intocáveis (1987) de Brian de Palma e Star Wars episódio III (2005).

C'era una volta il West/Era uma Vez no Oeste (1968) - Sergio Leone
Children of Men/Filhos da Esperança (2006) - Alfonso Cuarón
Cidade de Deus/Cidade de Deus (2002) - Fernando Meirelles e Kátia Lund
Citizen Kane/Cidadão Kane (1941) - Orson Welles (crítica de Roger Ebert)

CIDADÃO KANE O filme figura em primeiro lugar na maioria das listas de melhores filmes de todos os tempos. Não é por nada. A obra de Orson Welles é perfeita. Construída na forma de um documentário que conta a vida de Charles Foster Kane (interpretado pelo próprio Welles), um rico empresário das comunicações, procura resolver o mistério de qual seria o significado das últimas palavras de Kane no leito de morte: "Rosebud". O filme é construído de forma circular, desconstruindo a narrativa linear, detalhando cada aspecto da vida de Kane e seus envolvimentos amorosos, casamentos e ambições políticas. Kane é inspirado em William Randolph Hearst, o construtor de um império das comunicações com rádios e jornais.  A fotografia está cheia de imagens imponentes, como Xanadu, o refúgio que Kane constroi para si e sua família, onde, ao final da vida, exila-se, já velho e decepcionado. Welles foi brilhante ao usar fotografia com foco profundo e pinturas de paisagens para dar grandiosidade às cenas. Em muitos aspectos, Welles tornou-se, com Cidadão Kane, o pioneiro do Film Noir, não que o filme seja típico do gênero, mas porque apresenta já alguns elementos deste gênero, particularmente nas técnicas de câmera, que acabaram influenciando os cineastas do Film Noir. Entre as inovações de Welles neste filme estão: uso de fotografia de foco profundo; espelhos nas tomadas; ângulos inusitados da câmera, particularmente ângulos baixos de forma a mostrar o teto na cena - coisa que nunca havia sido feita antes no cinema; sombras; ilusões de ótica, como o uso de tomadas através de janelas. Para completar a genialidade de Welles, a cena final do filme elucida o mistério central do filme, mas apenas para os espectadores no cinema, numa bela aplicação de meta-linguagem, que mantém o mistério, dentro do enredo, escondido para sempre. A cena inspira a cena final do filme Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida. Obra-prima!

Солярис/Solaris (1972) - Andrei Tarkovski (crítica de Roger Ebert)

SOLARIS Chamado por alguns de "2001" soviético, o filme de Tarkovsky está longe disso, pois possui personalidade própria, não merecendo ser comparado ou diminuído pelo filme de Kubrick. Solaris, cujo enredo é baseado em um conto de Stanislav Lem, é considerada como uma das maiores obras de ficção científica do cinema. Enquanto o filme "2001" trata do passado, presente e futuro da humanidade, Solaris trata do significado da vida humana. Em "2001", os alienígenas são capazes de criar "espaços", como o que Bowman encontra "do outro lado", enquanto que em Solaris é um planeta alienígena que é capaz de criar coisas. Porém, não cria "espaços", mas seres ou recordações deles. Tarkovsky não se preocupa muito com a tecnologia envolvida nas viagens espaciais, mas concentra sua narrativa nas pessoas que dela fazem parte. O enredo do filme gira em torno do envio de um psicólogo, Kris Kelvin, a uma estação espacial, chamada de Solaris, orbitando um planeta distante, para investigar porque a tripulação está tornando-se insana. Como num paralelo com o Monolito de "2001", neste caso, é o planeta que é capaz de criar as situações do enredo. O próprio Kelvin acaba sendo afetado pelas visões criadas pelo planeta, quando revive seu relacionamento com sua falecida esposa Hari. O filme tem seu ápice na cena final, em que Kelvin é visto na casa de seu pai, quando a câmera afasta-se revelando que a cena ocorre na superfície do planeta, sugerindo que o planeta é capaz de não só criar estas visões, mas de ler os pensamentos para obtê-las. O final ambíguo pode sugerir também que havia mais um personagem ilusório em Solaris...

Das Boot/O Barco: Inferno no Mar (1981) - Wolfgang Petersen
Das Cabinet des Dr. Caligari/O Gabinete do Dr. Caligari (1920) - Robert Wiene (crítica de Roger Ebert)

O GABINETE DO DR. CALIGARI A primeira obra do expressionismo alemão, O Gabinete do Dr. Caligari conta a história de um hipnotizador (Caligari) que controla um sonâmbulo (Cesare), usando-o para cometer assassinatos. O filme parece receber inspiração das histórias de "Frankenstein" e "Dr. Jekyll and Mr. Hyde" simultaneamente. Um dos toques mais geniais do filme é que a primeira e a última cenas acabam dando ao espectador uma compreensão completamente diferente do que o enredo parece contar, num surpreendente uso de uma história dentro de uma história. A fotografia carece de profundidade, mostrando ruas e cenários entrecortados e fora do esquadro, com elementos góticos e cubistas, como se quisesse ser uma metáfora para um mundo torto e defeituoso, reflexo do espírito alemão após a derrota na guerra. Sua estética permanece como uma referência para o cinema até os dias de hoje. O filme usa de uma metáfora para fazer crítica aos governantes alemães que conduziram a nação à ruína no pós-guerra. Alguns argumentam que o filme, com sua crítica política, acabou contribuindo para a ascensão do nazismo. Obra obrigatória a todo cinéfilo.

Der Himmel über Berlin/Asas do Desejo (1987) - Wim Wenders (crítica de Roger Ebert)

A PRIMEIRA ESPAÇONAVE EM VÊNUS
 Uma pena que este ótimo filme, coprodução da Alemanha Oriental e Polônia, tenha recebido o estigma de filme de baixo orçamento e tenha sido conhecido no ocidente pela versão censurada pelos EUA. Um filme pacifista, cujo texto condenando a bomba de Hiroshima foi devidamente cortado da versão conhecida nos dias de hoje. São 15 minutos que fazem diferença. Mas, mesmo na versão censurada, podemos perceber que o filme está longe de ser um filme ruim, tendo efeitos especiais e uma história que está muito além do que era feito no cinemão de ficção científica estadunidense da época. O filme acabou influenciando o cinema que veio a seguir, incluindo 2001.

Der Untergang/A Queda! As Últimas Horas de Hitler (2004) - Oliver Hirschbiegel
Det sjunde inseglet/O Sétimo Selo (1957) - Ingmar Bergman (crítica de Roger Ebert)
Deus e o Diabo na Terra do Sol/Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) - Glauber Rocha
Django/Django (1966) - Sergio Corbucci

DJANGO Este filme é um dos maiores clássicos do gênero "western spaghetti". A obra de Sergio Corbucci é surpreendente desde os créditos até a cena final. O filme conta a história de um homem rude que, chegado a um pequeno e empobrecido vilarejo, que é disputado por duas gangues rivais, envolve-se na disputa. Django, interpretado de forma impecável por Franco Nero, tem como marca registrada o fato de arrastar com ele um caixão de defunto, dentro da qual guarda surpresa para aqueles que o desafiarem. Na verdade, o filme é uma refilmagem de Yojimbo de Akira Kurosawa (1961), adaptada para o gênero western spaghetti. A música tema, de Luis Bacalov, tornou-se um sucesso e um símbolo do filme, tendo sido usada em Django Livre de Quentin Tarantino (2012).

Django Unchained/Django Livre (2012) - Quentin Tarantino
Dog Day Afternoon/Um Dia de Cão (1975) - Sidney Lumet
Duck Soup/O Diabo a Quatro (1933) - Leo McCarey 
E la Nave Va/E la Nave Va (1983) - Federico Fellini
E.T. the Extra-Terrestrial/E.T.: O Extraterrestre (1982) - Steven Spielberg
Fanny och Alexander/Fanny & Alexander (1982) - Ingmar Bergman
Fitzcarraldo/Fitzcarraldo (1982) - Werner Herzog (crítica de Roger Ebert)

FITZCARRALDO Uma história incrível, beirando ao surrealismo. Klaus Kinski interpreta Brian Sweeney Fitzgerald, o Fitzcarraldo, um homem apaixonado por Caruso, que sonhou construir uma ferrovia trans-andina. Falido, agora quer trazer a ópera para a floresta amazônica, buscando recursos com a exploração da borracha. Para isso precisa levar um enorme barco a vapor, de um rio para outro, pelo meio da floresta subindo um morro, usando a força bruta, explorando os índios da região. Uma crítica à exploração dos índios da amazônia pelos homens brancos. Em uma sublime loucura para fazer o filme, Herzog submete a equipe de filmagem a condições difíceis, de certa forma repetindo o que o filme conta. Fotografia deslumbrante. Uma parceria bem sucedida de Werner Herzog com Klaus Kinsky, em um filme monumental.

Forbidden Planet/Planeta Proibido (1956) - Fred M. Wilcox

PLANETA PROIBIDO Esta obra-prima do cinema de ficção científica da década de 50, baseia-se vagamente na obra "A Tempestade" de William Shakespeare. O roteiro versa sobre a missão da nave espacial C-57D para o distante mundo de Altair IV, para determinar o destino de uma missão enviada àquele planeta 20 anos antes. Lá encontram Morbius e sua filha Altaira, que descrevem como toda a tripulação de sua missão foi morta por uma força planetária desconhecida que acaba atacando também a tripulação da nave C-57D. Mobius explica aos visitantes que ele estuda uma antiga civilização, Krell, desaparecida há muito tempo daquele planeta. Na verdade, a força é uma manifestação do próprio Morbius, usando tecnologia dos Krell, controlada por sua mente subconsciente, fato que ele terá de aceitar relutantemente, para que sua filha e os visitantes possam fugir do planeta antes que ele seja destruido. O enredo sugere que o subconsciente de Morbius conspirou contra todos aqueles que aproximaram-se de sua família e de sua filha, que ele deseja inconscientemente afastar do convívio social, que lhe parece inadequado. O filme introduz Robby the robot, um dos robôs mais famosos do cinema, que reapareceu em produções posteriores para o cinema e televisão. Segundo Gene Roddenberry, Forbidden Planet inspirou a saga Star Trek. Podemos reconhecer isso nos planos amplos de algumas tomadas, nas civilizações perdidas (tema recorrente em Star Trek) e nos inimigos invisíveis. Roger Ebert indentifica, nos personagens do filme, paralelos com os de Star Trek - a série original, o capitão, o doutor e o engenheiro: Kirk e seu permanente envolvimento com mulheres; McCoy e seu gosto por bebida; e Scotty e sua capacidade de assumir tarefas impossíveis.

Frau im Mond/A Mulher na Lua (1929) - Fritz Lang
Gone with the Wind/...E o Vento Levou (1939) - Victor Fleming
Good Morning, Babylon/Bom Dia Babilônia (1987) - Paolo Taviani e Vittorio Taviani
Hauru no ugoku shiro/O Castelo Animado (2004) - Hayao Miyazaki
High Noon/Matar ou Morrer (1952) - Fred Zinnemann
Ikarie XB 1/Viagem ao Fim do Universo (1963) - Jindrich Polák

VIAGEM AO FIM DO MUNDO Este filme tcheco pode ser considerado a inspiração para muito do que veio a seguir no cinema de ficção científica, incluindo 2001, Uma Odisseia no Espaço e seriados da TV como Star Trek. Uma pequena obra prima.

Ilha das Flores/Ilha das Flores (1989) - Jorge Furtado
In weiter Ferne, so nah!/Tão Longe, Tão Perto (1993) - Wim Wenders
Inglourious Basterds/Bastardos Inglórios (2009) - Quentin Tarantino
Intolerance: Love's Struggle Throughout the Ages/Intolerância (1916) - D.W. Griffith
Iron Giant/O Gigante de Ferro (1999) - Brad Bird

O GIGANTE DE FERRO Este é um filme de animação estupendo. Ambientado nos anos 50, em plena guerra fria, em que a URSS havia colocado o Sputnik sobre as cabeças dos estadunidenses, aumentando o delírio de uma invasão comunista, a animação tem um ar retrô que lhe confere um charme especial. O filme conta a história de um garoto que encontra um gigantesco robô alienígena e passa a conviver com ele e com um jovem beatnik, fugindo dos militares que acham que o robô é uma ameaça aos EUA. O filme tem como tema o livre-arbítrio, expresso na frase chave do filme: "você é o que você escolhe ser". Animação muito bem feita, com ótima história em um filme comovente.

It's a Wonderful Life/A Felicidade Não se Compra (1946) - Frank Capra (crítica de Roger Ebert)
Jaws/Tubarão (1975) - Steven Spielberg (crítica de Roger Ebert)

TUBARÃO O máximo de tensão e suspense que se pode produzir em uma obra cinematográfica é não mostrar, apenas sugerir, e talvez por isso os filmes antigos de ficção científica tenham tanto charme, pois na falta de melhores efeitos especiais na época, tudo que havia era uma presença sugerida de algo. Se lembrarmos de "O Monstro do Ártico" de 1951, perceberemos que a presença do alienígena muitas vezes é apenas sugerida, ao filmar os corredores vazios do abrigo. De fato, o alienígena aparece apenas de relance em poucos momentos do filme. O mesmo acontece em Tubarão, a obra mais emblemática de Steven Spielberg. A presença do grande tubarão branco é constantemente lembrada, por seus efeitos, sem que o tubarão em si apareça, cuja aparição na tela soma poucos segundos em todo o filme. Diversas cenas são mostradas com o objetivo de criar, na imaginação do expectador, a imagem de um monstro de tamanho descomunal, capaz de engolir qualquer coisa. A genialidade de Spileberg demonstra-se na cena no pier, em que parte do pier despenca e é arrastada por algo que mordeu a isca dos pescadores, mas então, em determinado momento, o pier dá meia volta e rasga a superfície do mar em direção a um dos pescadores que caiu nas águas. A trama tem como pano de fundo um veraneio nas praias de uma localidade em New England, um resort de luxo que recebe milhares de turistas na estação. A história mostra os interesses econômicos dos poderosos da localidade, mais interessados nos lucros que na segurança dos banhistas, e o conflito com Brody, o Xerife da cidade, que deseja fechar as praias até que o perigo passe. Se não bastasse tudo isso, o filme apresenta a contradição entre o velho pescador Quint, com seus métodos antiquados e sua teimosia, contra Matt Hooper, um oceanólogo da universidade, especialista em tubarões. A ironia que o enredo apresenta é que nenhum deles foi capaz de resolver a situação, mas sim o Xerife Brody, que aliás tinha medo de barcos. Spielberg sendo Spielberg em seu máximo.

Kakushi-toride no san-akunin/A Fortaleza Escondida (1958) - Akira Kurosawa
Kôkaku Kidôtai/O Fantasma do Futuro (1995) - Mamoru Oshii
L'armata Brancaleone/O Incrível Exército de Brancaleone (1966) - Mario Monicelli

O INCRÍVEL EXÉRCITO DE BRANCALEONE Uma comédia hilariante que parodia e brinca com o mito do cavaleiro medieval. Um grupo de miseráveis esfarrapados, liderados por Brancaleone, um cavaleiro trapalhão, marcham para Aurocasto para tomar posse de um castelo e um feudo. Inspirado em "Dom Quixote", o filme de Mario Monicelli é uma obra-prima imperdível.

La Montaña Sagrada/A Montanha Sagrada (1973) - Alejandro Jodorowsky

A MONTANHA SAGRADA À primeira vista, a história apresentada nesta obra parece sem sentido, e o filme uma experiência psicodélica e louca. No entanto, para aqueles que tem algum conhecimento de alquimia, hermetismo, tarot, cabala e astrologia, os símbolos apresentados no filme fazem todo o sentido. A história descreve a viagem iniciática de um ladrão, cuja semelhança com Cristo não é coincidência, que, aliado a 7 personalidades associadas aos 7 planetas da astrologia, empreende a busca pelos 9 sábios imortais para obterem o segredo da imortalidade. O diretor, Alejandro Jodorowsky, é um místico e estudioso de hemetismo, cuja principal influência foi o mestre espiritual George Ivanovich Gurdjieff. O filme critica a Igreja, indústria bélica, autoritarismo, poder político e consumismo.

La notte di San Lorenzo/A Noite de San Lorenzo (1982) - Paolo Taviani e Vittorio Taviani

A NOITE DE SAN LORENZO O belíssimo filme dos irmãos Taviani versa sobre os impactos dos últimos dias do fascismo, em uma pequena localidade interiorana na Itália. Na verdade, a história toda é contada em um flashback, pela menina que testemunhou os acontecimentos a sua filha pequena. O filme tem como pano de fundo as atrocidades cometidas contra o povo italiano, a medida que os fascistas de Mussolini tinham de recuar para o norte com o avanço das tropas aliadas. A pequena cidade retratada na película recusa-se a cooperar com os nazistas, e seus habitantes devem escolher entre a orientação do padre da cidade, permanecer na cidade, dentro da igreja, ou fugir na noite de São Lourenço. As orientações políticas dos habitantes do vilarejo são variadas, desde simpatizantes nazistas até partisans. A maioria sonha com um acordo vantajoso para o desfecho da fuga, sendo assim, o centro dos desejos e dos sonhos dos fugitivos é encontrar as tropas estadunidenses, para conseguir a segurança, e escapar dos nazistas.

Le voyage dans la Lune/Viagem à Lua (1902) - Georges Méliès

VIAGEM À LUA Tenho orgulho de ter entre meus filmes preferidos esta pequena obra-prima deste cineasta tão produtivo e criativo. Este é o filme mais antigo entre os que conheço. Lançado em 1902, esta obra de ficção científica e comédia foi o "2001" de sua época. Méliès era um mágico que conhecia bem como fazer ilusões usando dupla exposição do filme. Seus efeitos especiais encantaram as plateias de sua época. Neste filme, de 13 minutos, Méliès apresenta uma viagem espacial da Terra à Lua, em que os pioneiros do espaço lá encontram uma raça de alienígenas. Baseado na ideia original de Jules Verne.

Les parapluies de Cherbourg/Os Guarda-Chuvas do Amor (1964) - Jacques Demy
Letters from Iwo Jima/Cartas de Iwo Jima (2006) - Clint Eastwood
Luna/Luna (1965) - Pavel Klushantsev
Metropolis/Metrópolis (1927) - Fritz Lang (crítica de Roger Ebert)

METRÓPOLIS O cinema expressionista alemão tem em Metrópolis uma de suas obras mais significativas, nascida na efervescência política do pós-guerra na República de Weimar. A obra-prima de Fritz Lang é um trabalho com cunho ocultista e populista. Lembremos que a Alemanha do início do século 20 era um caldeirão de misticismos. Fritz Lang não era um nazista, inclusive um de seus filmes foi banido pelo regime de Hitler, no entanto, Joseph Goebbels convidou-o a produzir filmes de propaganda nazistas. Após esta reunião com Goebbels, Lang fugiu da Alemanha e chegou a produzir filmes anti-nazistas. Mesmo assim, o enredo do filme  mostra a influência do clima populista da Alemanha que culminou com a ascensão dos nazistas ao poder. O roteiro de Metropolis descreve um mundo dividido entre duas classes: a classe de Pensadores, que vivem na parte alta da cidade em luxo e ostentação; e a classe de Trabalhadores que vivem nos subterrâneos em condições miseráveis. Evidentemente a cidade de Metropolis só existe pelo trabalho dos que vivem em seus subterrâneos. Umas das primeiras cenas do filme mostra a troca de turno nas fábricas de Metropolis, em que os trabalhadores marcham como se fossem autômatos. O construtor e governante de Metropolis é Joh Fredersen. Ele tem um filho chamado Freder que, acidentalmente, acaba indo visitar os subterrâneos. Uma das cenas mais memoráveis e emblemáticas do filme é aquela que mostra os trabalhadores exercendo atividades repetitivas e dependentes em uma máquina, que na visão de Freder transforma-se no ídolo pagão canaanita Moloch, ao qual eram ofertados sacrifícios humanos. Freder tem a visão do ídolo-máquina devorando os trabalhadores. A partir desta visão, Freder busca saber mais sobre a situação dos trabalhadores e descobre uma mulher, Maria, que é uma líder sindical, santa e carismática que busca conscientizar os trabalhadores de sua situação. Sabendo disso, Joh Fredersen procura o mago-engenheiro C.A. Rotwang, que projeta um androide com capacidade de assumir a aparência de uma pessoa. Rotwang é a imagem do ocultista, com um Pentagrama invertido adornando seu laboratório. Sua mão direita é mecânica, o que evoca a “mão oculta”, um símbolo ocultista. O androide, assumindo a aparência de Maria, é enviado por Rotwang a Yoshiwara, um lugar de luxúria e perdição, e passa a confundir a todos com um comportamento lascivo. Ao final, Freder consegue evitar uma tragédia e media um acordo entre Joh Fredersen e os trabalhadores. Ele torna-se o mediador entre “a cabeça” (os Pensadores) e “as mãos” (os Trabalhadores). A película é uma alegoria sobre o populismo e a conciliação de classes. A obra acabou tendo enorme influência na cultura pop contemporânea. Basta ver as enumeráveis capas de revistas e clipes musicais inspiradas no visual de Metropolis e na aparência do androide/Maria. A influência do filme na saga Star Wars pode ser percebida nas semelhanças na aparência do androide C-3PO e de Maria, assim como a mão direita mecânica de Darth Vader e Luke Skywalker, uma referência ao personagem Rotwang.

Modern Times/Tempos Modernos (1936) - Charles Chaplin (crítica de Roger Ebert)
Mononoke-hime/Princesa Mononoke (1997) - Hayao Miyazaki
Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens/Nosferatu (1922) - Friedrich Wilhelm Murnau
Nuovo Cinema Paradiso/Cinema Paradiso (1988) - Giuseppe Tornatore (crítica de Roger Ebert)
Out of Rosenheim/Bagdad Café (1987) - Percy Adlon (crítica de Roger Ebert)

BAGDAD CAFÉ O filme de Percy Adlon tem um clima envolvente, que aproveita o cenário do deserto de Mojave e a música de Bob Telson, para retirar o espectador de seu mundo e imergi-lo na história criada por ele próprio e Christopher Doherty. Uma turista germânica de corpo avantajado, Jasmin Münchgstettner (interpretada por Marianne Sägebrecht), briga com seu marido e acaba alugando um quarto em uma espelunca a beira da estrada, no deserto de Mojave, o Bagdad Cafe. Para complicar, ela acaba descobrindo que trocou de mala com o ex-marido, e só tem roupas masculinas. Deste momento em diante, inicia a tensão entre ela e a dona do estabelecimento, a difícil e problemática Brenda, uma mulher afro-americana que rompeu com o marido, e cuja situação reflete aquela dos EUA como país: frustrada e sem futuro. A despeito de ambas estarem vivendo uma separação, ambas tem diferenças e Brenda mostra-se horrorizada com a inquilina ao ponto de chamar a polícia para investigar a estrangeira, refletindo um sentimento de xenofobia. Na verdade, as diferenças entre as duas refletem as diferenças culturais e sociais entre uma Europa culta e social-democrata, e os EUA com sua cultura fácil, superficial e rápida, como uma visita ao MacDonalds. No entanto, logo Jasmin começa a conquistar a todos e provocar ciúmes em Brenda. Ela encontra nos filhos de Brenda, Phyllys e Salomo, aliados que começam a entende-la e admirá-la. Para Phyllys, Jasmin tem conselhos ponderados e compreensão e com Salomo, ela encontra um ponto de contato, pois ele está aprendendo piano clássico, música que, diferente de Brenda, ela aprecia. Rudi Cox (interpretado por Jack Palance), um morador de trailer nas proximidades do Cafe, passa a cortejar Jasmin e soma-se aos que provocam raiva e ciúmes em Brenda. No entanto, paulatinamente Jasmin começa a vencer os obstáculos com Brenda como que fosse por mágica... Um kit de mágicas, encontrado na mala de seu ex-marido, é alvo de estudo de Jasmin, que passa a ser a estrela do Bagdad Cafe. Uma metáfora sobre as diferenças culturais entre os EUA e a velha Europa. É mágica!

Paris, Texas/Paris, Texas (1984) - Wim Wenders (crítica de Roger Ebert)

PARIS, TEXAS O cenário árido e vazio do deserto de Mojave na Califórnia dá o tom deste filme que é considerado a obra prima de Wim Wenders. Já na primeira cena, um homem vestido em roupas surradas e esfarrapadas, com um boné vermelho, caminha na paisagem desértica, quando uma águia pousa em uma pedra próxima. A fotografia é perfeita, com a cena sendo filmada do alto, mostrando a paisagem magnífica do deserto de Mojave. Ele é Travis, numa interpretação magistral de Harry Dean Staton, que está desaparecido e longe de sua família há quatro anos. A cena mostra o vazio do deserto, mas é plena de significado no contexto do filme, fazendo paralelo com o vazio da memória de Travis. O irmão de Travis, Walt, é avisado do paradeiro do irmão, desaparecido há quatro anos, e parte para resgata-lo. O vazio da paisagem corresponde perfeitamente ao silêncio e o vazio da memória de Travis, entre cujas poucas lembranças está um terreno vazio em Paris, Texas. Travis precisa reconectar-se com sua família e sua vida, e esta é a linha mestra do enredo, em que a pequena e árida Paris no Texas contrapõe-se à cosmopolita e iluminada Paris, capital da França. Uma metáfora que ilustra a desconexão de Travis de sua família e a necessidade de superar a crise pessoal em que se encontra, devido a uma desilusão amorosa, ocasionada pela separação de sua mulher Jane, interpretada por Nastassja Kinski. O personagem interpretado por Harry Dean Staton, Travis, é complexo e de personalidade difícil, mas não se pode furtar a constatação de que ele é um personagem apaixonante e envolvente. Os acordes melódicos de guitarra da trilha musical de Ry Coder fazem o clima perfeito para as imagens áridas do filme. O filme de Win Wenders ganhou a Palma de Ouro, o Festival de Cannes, e a indicação ao Globo de Ouro de filme estrangeiro. Um drama instigante e um filme imperdível.

Prova d'orchestra/Ensaio de Orquestra (1978) - Federico Fellini
Pulp Fiction/Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994) - Quentin Tarantino (crítica de Roger Ebert)

PULP FICTION: TEMPO DE VIOLÊNCIA Pulp Fiction de Quentin Tarantino é uma obra de excessão. Uma comédia construída de forma não linear, como o clássico Cidadão Kane, que desafia o expectador a "preencher as lacunas" à medida que a película avança. O filme parece ser uma história contada em uma revista em quadrinhos, e seu nome parece bem adequado: Pulp Fiction - termo usado para designar história absurda ou de menos qualidade. Neste filme podemos ver a real influência sobre toda a obra de Tarantino: filmes B antigos que ele assistiu quando trabalhava em uma locadora. Diversão pura.

Rango/Rango (2011) - Gore Verbinski
Ratatouille/Ratatouille (2007) - Brad Bird
Rear Window/Janela Indiscreta (1954) - Alfred Hitchcock
Rupan sansei: Kariosutoro no shiro/O Castelo de Cagliostro (1979) - Hayao Miyazaki
Sen to Chihiro no kamikakushi/A Viagem de Chihiro (2001) - Hayao Miyazaki e Kirk Wise

A VIAGEM DE CHIHIRO Há algum tempo atrás, Roger Ebert reconheceu Hayao Miyazaki como um dos maiores cineastas de animação de todos os tempos. Pois este homem, que fundou o Studio Ghibli, foi o responsável por "A Viagem de Chihiro", que alguns consideram o melhor filme de animação da história. Profundo, belo e cheio de simbologia, "A Viagem de Chihiro" trata da história de Chihiro, uma menina de 10 anos de idade, que busca salvar seus pais de um encantamento que os tornou porcos, enquanto tenta viver em um mundo de deuses, bruxas, espíritos e seres misteriosos. O tema principal da animação é a crise de identidade de Chihiro, que fica abalada pela decisão de seus pais de mudarem de cidade. Mas o filme ilustra também o conflito do Japão moderno, que se vê entre a modernidade ocidental e a sua tradição milenar. Toda a história representa um rito de passagem de Chihiro e seu amadurecimento como ser humano. A animação faz uma crítica ao capitalismo. O fato dos pais de Chihiro terem sido transformados em porcos enquanto comiam  a comida dos deuses, representa o consumismo e o capitalismo que a tudo destroi. A animação representa a perda de identidade de Chihiro quando ela recebe um novo nome, Sen ("mil" em japonês), que é um trocadilho com o nome dela em japonês e, ao mesmo tempo, por ser um número, representa sua perda de identidade. Destaque deve ser dado ao personagem "Sem Face", que por não possuir face, não possui identidade e simplesmente reflete o comportamento das pessoas em volta dele. Ele é um dos personagens mais interessantes do enredo da animação. Belíssima animação que trata de temas sobre identidade, evolução, crescimento e amadurecimento. Obra prima!

Shichinin no Samurai/Os Sete Samurais (1954) - Akira Kurosawa (crítica de Roger Ebert)

OS SETE SAMURAIS Quando li pela primeira vez a obra completa com as tragédias de Shakespeare, ao final, pensei que seria difícil escrever um drama novo que não parecesse um plágio, de alguma das muitas histórias contadas pelo grande bardo inglês. Uma ideia semelhante me ocorreu, em relação ao cinema, quando conheci a obra cinematográfica de Akira Kurosawa. Sete Samurais é sua obra-prima, e um dos filmes mais emblemáticos de toda a história do cinema. A ideia é bem simples: um grupo de desajustados que une-se para defender uma comunidade. Esta ideia será repetida, no cinema, em obras como: Sete Homens e um Destino (1960); Mercenários das Galáxias (1980); e Vida de Inseto (1998). As cenas de batalhas foram inspiração para cenas semelhantes de outros grandes filmes que se seguiram à obra de Kurosawa. George Lucas não esconde que a película, junto com o filme Fortaleza Escondida, também de Kurosawa, são inspirações para Star Wars episódio IV. Em Sete Samurais, um grupo de sete guerreiros japoneses é contratado por uma aldeia miserável, que enfrenta uma gangue de bandidos que regularmente rouba-lhes a sua comida. O grupo aceita trabalhar em troca apenas de arroz, muito embora a verdadeira motivação para arriscarem suas vidas lutando contra os bandidos, em favor da aldeia, seja ser aquilo que um samurai deve ser, para realizarem a natureza do samurai. Cada um dos personagens do filme parecem saídos de algum grande épico grego ou de uma das histórias de Shakespeare. Kambei Shimada, interpretado por Takashi Shimura, é o guerreiro veterano, sábio, equilibrado e estrategista, que organiza a defesa da aldeia para o confronto com os bandidos, enquanto que Kikuchiyo, interpretado por Toshiro Mifune, é impulsivo e destemperado, sendo a relação entre estes dois extremos uma das tensões que move a história. As cenas da batalha são incrivelmente envolventes e pictóricas. Em poucas palavras: Seven Samurai é uma obra-prima estupenda e imperdível.

Silent Running/Corrida Silenciosa (1972) - Douglas Trumbull (crítica de Roger Ebert)
Sleeper/O Dorminhoco (1973) - Woody Allen
Smultronstället/Morangos Silvestres (1957) - Ingmar Bergman
Star Wars/Guerra nas Estrelas (1977) - George Lucas (crítica de Roger Ebert)

GUERRA NAS ESTRELAS Tive a felicidade de assistir o primeiro filme da saga Star Wars em 1977, em um cinema de Porto Alegre. Na época não se tinha, no texto da narrativa de abertura, o título de "Episódio IV", que mais tarde foi adicionado à versão para DVD. O filme é um dos maiores marcos da história do cinema de ficção científica. Desde o texto da introdução, apresentado de forma inventiva, usando um efeito tridimensional, com uma narrativa que dá o contexto da história, criando expectativa e capturando a atenção do expectador, passando pela cena que segue-se, em que a câmera move-se para baixo revelando um planeta para, em seguida, aparecer uma perseguição espacial, com o enorme Destróier Imperial cobrindo toda a tela do cinema, o filme já revela-se uma obra de excessão. Esta abertura do filme tornou-se uma das marcas da saga. Inicialmente, George Lucas planejava fazer uma refilmagem do seriado dos anos 30, Flash Gordon, mas ocorreram problemas com os direitos autoriais, o que fez com que ele mudasse os seus planos. No entanto, diversos elementos de Flash Gordon aparecem em Star Wars, como o estilo dos letreiros iniciais e a aparência da cidade das nuvens, em "O Império Contra-ataca". Com Star Wars, Lucas criou um universo complexo e fascinante, onde princesas, imperadores, robôs e heróis desfilam suas histórias enquanto desenrola-se a disputa entre um império maléfico e um grupo de revolucionários idealistas. Neste universo, o fator determinante é algo chamado de "Força", uma energia que mantém a vida, mas cuja função não é bem explicada no filme. A "Força" é manejada pelos Jedis, um decadente e quase desaparecido culto, formado por monges-guerreiros. O filme não preocupa-se em fornecer longas explicações sobre a tecnologia apresentada no filme, ou sobre as origens dos dramas apresentados, entregando ao expectador a única opção de aceitar a trama e deixar de lado as objeções - suspensão de descrédito em seu máximo. No entanto, o filme consegue convencer as audiências com facilidade, fornecendo diversão pura. Lucas não esconde que sua inspiração veio do filme "Fortaleza Escondida" de Akira Kurosawa, em que a história é contada do ponto de vista de dois personagens medíocres e hilários, enquanto toda a ação desenrola-se em outro lugar. Assim, temos o robô R2-D2 e o andróide C3-PO em suas andanças pelo deserto do planeta, enquanto rebeldes e tropas do Império lutam na órbita do planeta por um segredo que poderia ser decisivo para ambos. George Lucas tinha, ao propor-se a fazer um filme de ficção científica, duas opções: um filme leve que não necessitasse de maior esforço mental para ser entendido; ou um filme como "2001 - Uma Odisséia no Espaço", com reflexões profundas sobre os destinos da humanidade. Lucas escolheu a primeira opção, criando uma ópera espacial recheada de referências à mitologia e religiões antigas. Boa parte de sua inspiração surge das obras do estudioso de mitologia Joseph Campbell e sua obra sobre "A Jornada do Herói". A obra de Campbell (que, aliás, era amigo pessoal de Lucas) desenvolve o conceito de que os heróis da mitologia apresentam uma jornada cíclica que repete-se em todos os mitos. Boa parte desta jornada cíclica pontua a aventura criada por Lucas. Diversas análises já foram feitas sobre os personagens da saga, associando: Darth Vader a Saturno, o deus que devorava seus próprios filhos; Luke Skywalker a Aquiles, o grande herói grego; Han Solo a Ulisses, o herói que não queria ser herói; e os Jedis à religiões antigas, aos monges-guerreiros, e aos samurais e sua habilidade com a espada. Grande parte do sucesso do filme, e mais tarde da saga, reside exatamente no fato de que estes símbolos e arquétipos, apresentados no filme, estão profundamente inseridos na psique humana, tornando o processo de envolvimento com a história algo direto e profundo. Some-se a isso personagens que facilitam o envolvimento do espectador com a história. De fato, ao centrar a trama do filme em um jovem fazendeiro, um velho sábio, um cowboy do espaço e uma donzela em perigo, George Lucas tornou o envolvimento das plateias com a história algo quase automático. O filme de 1977 é uma obra prima, que elevou a qualidade dos efeitos especiais a um nível jamais imaginado anteriormente. Uma coisa é certa: a ficção científica nunca mais será a mesma após a saga de Lucas.

Star Wars Episode V: The Empire Strikes Back/Star Wars Episódio V: O Império Contra-Ataca (1980) - Irvin Kershner

STAR WARS EPISÓDIO V: O IMPÉRIO CONTRA-ATACA Se não bastasse o universo criado no primeiro episódio, de 1977, esta continuação da saga contém revelações bombásticas sobre as relações entre os personagens e os seus destinos. Para muitos é o melhor episódio da saga inteira.

Superman, Spiderman sau Batman/Superman, Spiderman sau Batman (2011) - Tudor Giurgiu
Tess/Tess (1979) - Roman Polansky (crítica de Roger Ebert)

TESS O filme de Roman Polansky é uma adaptação do livro clássico de Thomas Hardy, Tess of the d'Ubervilles, ambientado na Inglaterra do início da revolução industrial. A película mostra a emergência do capitalismo industrial e a consequente pauperização dos camponeses. O roteiro retrata uma garota, Tess, interpretada por Nastassja Kinski, que passa por diversos sofrimentos ao longo de sua vida, incluindo o abandono por parte de seu puritano marido e os abusos nas mãos de um homem rico, Alec, que a família de Tess acreditava que fosse seu primo. A história da vida de Tess é, ao mesmo tempo, um épico romântico e uma tragédia shakespearesca, em que Tess acaba sendo traída por sua beleza, num mundo em que o capitalismo emergente converte as mulheres em objetos a serem consumidos. Belíssima fotografia.

The Elephant Man/O Homem Elefante (1980) - David Lynch
The General/A General (1926) - Clyde Bruckman e Buster Keaton (crítica de Roger Ebert)
The Godfather/O Poderoso Chefão (1972) - Francis Ford Coppola (crítica de Roger Ebert)
The Great Dictator/O Grande Ditador (1940) - Charles Chaplin (crítica de Roger Ebert)

O GRANDE DITADOR Esta obra-prima que satiriza Hitler e o regime Nazista, conta uma história em que um ditador e um barbeiro do gueto acabam sendo confundidos um com o outro. Charles Chaplin aproveita o bigode característico do Vagabundo para encarnar um hilariante ditador, sósia de Hitler. Na verdade, neste filme, Chaplin não interpreta o eterno Vagabundo, o que confundiu muitas audiências na época do lançamento. O filme retrata os sofrimentos causados pela guerra e opressão, exaltando a compreensão e a paz. Ao final, Chaplin abandona o humor e, em um tom sério, discursa contra a opressão e a tirania, quebrando o silêncio que sempre caracterizou o Vagabundo.

The Great Train Robbery/O Grande Roubo do Trem (1903) - Edwin S. Porter
The Irishman/O Irlandês (2019) - Martin Scorsese
The Producers/Primavera para Hitler (1967) - Mel Brooks
The Shawshank Redemption/Um Sonho de Liberdade (1994) - Frank Darabont
The Shining/O Iluminado (1980) - Stanley Kubrick
The Two Popes/Dois Papas (2019) - Fernando Meirelles
The Wolf of Wall Street/O Lobo de Wall Street (2013) - Martin Scorsese
Tonari no Totoro/Meu Amigo Totoro (1988) - Hayao Miyazaki
Toy Story/Toy Story (1995) - John Lasseter 

TOY STORY Existem certos arquétipos que parecem estar onipresentes nos dramas da realidade e da ficção. Entre os mais emblemáticos está o dos rivais que se odeiam, mas que tem de unirem-se para enfrentar uma adversidade. Tema recorrente no universo do cinema. A animação da Pixar é exatamente sobre isso. A rivalidade entre Woody e Buzz deve ser posta de lado para que os rivais possam enfrentar a situação em que eles mesmos se colocaram, capturados pelo malvado Sid. Para que possam livrar-se de Sid e voltar para Andy e seus amigos, os dois, o cowboy e o astronauta, deverão cooperar e, ao mesmo tempo, ajudar os brinquedos de Sid a livrarem-se da escravidão imposta pelo malvado vilão da história. Mas antes, Buzz terá de enfrentar a verdade que recusa-se a aceitar: que não é um astronauta de verdade, mas um brinquedo de uma criança. A trama é quase shakespeariana, contendo o tipo de tensão, drama e aventura que torna esta uma das melhores animações para cinema de todos os tempos. Se não bastasse isso, os dois protagonistas da história são acompanhados por personagens de desenho que formam um mosaico de personalidades que devem acompanhar todo bom enredo de cinema: a mocinha; o palhaço; o covarde; etc. A animação apresenta uma história de alta qualidade, que é contada com muita habilidade e a qualidade de animação que caracteriza a Pixar.

Triumph des Willens/Triunfo da Vontade (1935) - Leni Riefenstahl (crítica de Roger Ebert)

TRIUNFO DA VONTADE Um dos maiores, e mais odiosos, filmes da história do cinema. Leni Riefenstahl oferece-nos uma obra-prima ao dirigir este documentário sobre o Congresso e o Comício do Partido Nazista em Nuremberg, 1934. Um filme de propaganda nazista que conseguiu sobreviver ao colapso do regime. Riefenstahl já demonstra na cena inicial sua intenção de retratar Hitler como um heroi messiânico, numa cena em que o avião do Fuhrer, chegando para o Comício, sobrevoa Nuremberg, projetando uma sombra em forma de cruz,  como que passando a ideia do líder religioso que "chega dos céus" para salvar seu povo. O filme mostra, em majestosas imagens, milhares de coadjuvantes. As multidões, em cenas noturnas iluminadas por tochas, são filmadas com inegável maestria. Neste filme, as multidões substituem as individualidades, exceto pela do líder nazista. Raras imagens ou diálogos individuais. Riefenstahl tenta passar a ideia de que os interesses do país estão acima dos interesses individuais, sugerindo a submissão do povo ao seu "messias". Durante um jogral de vozes, em que soldados identificam-se a si e às suas cidades natal, percebe-se que a cena não poderia ter sido feita sem ensaio, planejamento e repetição, ainda mais porque, numa multidão tão grande, as vozes não seriam ouvidas e o jogral não seria possível. O mesmo se pode dizer sobre as tomadas do discurso de Hitler, que parecem ensaiadas. Além disto, as cenas do comício foram filmadas usando 30 câmeras, mas elas nunca aparecem em nenhuma tomada. Isso tudo demonstra que o filme, embora apresente-se como um documentário, não pode ser visto somente desta forma. De fato, o filme é um exemplo de o quanto a propaganda política era importante para o regime nazista.

True Grit/Bravura Indômita (2010) - Ethan Coen e Joel Coen 

BRAVURA INDÔMITA Dificilmente uma refilmagem é melhor que a obra original. No entanto, o caso da obra dos irmãos Coen, uma refilmagem de um clássico estrelado por John Wayne, é uma excessão. O filme tem uma direção competente dos irmãos, que adicionaram alguns elementos novos no roteiro do filme, tornando esta versão melhor que a original. A tensão entre os homens da lei, o velho delegado Rooster Cogburn (interpretado por Jeff Bridges) e o jovem e inexperiente ranger LaBoef (Matt Daimon), e a menina que os contratou para prenderem o asssassino de seu pai, Mattie Ross (Hailee Steinfeld), domina o roteiro do filme. Mas talves o elemento mais inquietante e surpreendente seja a determinação de Mattie, uma menina impondo-se em um mundo masculino e adulto. O roteiro é envolvente e o resultado final uma obra-prima.

Unforgiven/Os Imperdoáveis (1992) - Clint Eastwood
Viskningar Och Rop/Gritos e Sussurros (1972) - Ingmar Bergman
WALL-E/WALL-E (2008) - Andrew Stanton
Yôjinbô/Yojimbo, o Guarda-Costas (1961) - Akira Kurosawa (crítica de Roger Ebert)
Young Frankenstein/Jovem Frankenstein (1974) - Mel Brooks

JOVEM FRANKENSTEIN Mel Brooks criou uma obra-prima da comédia. Baseado na obra "Frankenstein" de Mary Shelley, Brooks imprimiu ao filme um clima obscuro e misterioso, usando fotografia em preto-e-branco. A fotografia do filme lembra-me o clássico "Cidadão Kane". Interpretações magistrais numa escolha perfeita de elenco.

Zabriskie Point/Zabriskie Point (1970) - Michelangelo Antonioni (crítica de Roger Ebert)

ZABRISKIE POINT
 O filme de Antonioni apresenta um retrato dos anos 60 nos EUA tendo como fio condutor o relacionamento de dois estranhos.